Instrução Pastoral sobre a Liturgia das Horas e o Ofício das Leituras - Dicastério para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos

 

DICASTERIUM DE CULTU DIVINO ET DISCIPLINA SACRAMENTORUM

INSTRUÇÃO PASTORAL SOBRE A LITURGIA DAS HORAS E O OFÍCIO DAS LEITURAS 

DOM ÍTALO SILVA
POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLOICA
TITULI DI AQUAE IN NUMIDIA
BISPO DIOCESANO DA DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA
PREFEITO DO DICASTÉRIO PARA EVANGELIZAÇÃO
PREFEITO DO DICASTÉRIO PARA O CULTO DIVINO E DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS

ANO JUBILAR DE 2025
"A ESPERANÇA QUE RENOVA" 

Aos diletos filhos espalhados por toda a Igreja universal e a todo o Povo de Deus que recebem essa Instrução pastoral, saúde e paz da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo, pela intercessão da Santíssima Virgem Maria, Mãe da Igreja, e de todos os Santos Apóstolos.

A Santa Igreja, Mãe e Mestra, sempre cuidou de orientar seus filhos no caminho da oração. Entre as formas mais sublimes de oração que nos foram confiadas está a Liturgia das Horas, também chamada Ofício Divino, que ocupa lugar privilegiado na vida espiritual do Povo de Deus.

Não se trata de simples devoção, mas de oração oficial da Igreja, instituída e vivida desde os tempos apostólicos, e que ressoa no coração da Esposa de Cristo como um hino contínuo de louvor, súplica e ação de graças. Ao rezá-la, a Igreja santifica o curso do tempo, oferecendo-o a Deus como sacrifício espiritual.

O Ofício das Leituras, parte integrante da Liturgia das Horas, é particularmente importante, pois conduz os fiéis a um encontro mais profundo com a Palavra de Deus e com a tradição viva dos Santos Padres e doutores.

I – Fundamento Teológico e Histórico

A Liturgia das Horas tem suas origens na piedade do povo hebreu, que, em fidelidade à Aliança, elevava ao Senhor orações ao nascer do sol, ao entardecer e durante a noite. Jesus Cristo, perfeito adorador do Pai, rezava os Salmos e santificava o tempo com sua presença.

Os Apóstolos, instruídos pelo Senhor, continuaram a prática das orações em horas determinadas (cf. At 3,1; At 10,9), e os primeiros cristãos logo organizaram tais momentos em forma litúrgica. Os monges e religiosos, sobretudo a partir do século IV, deram estrutura mais definida a este louvor, que floresceu em mosteiros, catedrais e igrejas paroquiais.

O Concílio Vaticano II, pela Constituição Sacrosanctum Concilium, renovou e abriu novamente esta oração ao povo de Deus, lembrando que todos os batizados, não apenas clérigos e religiosos, são chamados a participar desta obra de santificação.

II – Natureza e Importância da Liturgia das Horas

A Liturgia das Horas é:

Oração da Igreja: não pertence a um indivíduo ou grupo, mas é ação da Esposa de Cristo.

Santificação do tempo: o ritmo das horas humanas se torna ritmo de louvor divino.

Prolongamento da Eucaristia: aquilo que é celebrado no Altar se estende pela oração cotidiana.

Participação na oração de Cristo: o Senhor Jesus, Sumo Sacerdote, continua intercedendo pelo mundo, e nós, unidos a Ele, nos tornamos oferenda agradável ao Pai.

Escola de espiritualidade: ensina a rezar com os Salmos, com a Palavra de Deus e com os santos, formando o coração dos fiéis.

Rezar a Liturgia das Horas é, portanto, um ato de amor à Igreja e uma profunda participação no mistério de Cristo.

III – Estrutura das Horas Canônicas

A Liturgia das Horas é composta por momentos que, distribuídos ao longo do dia e da noite, recordam a presença de Deus e santificam a vida humana:

Ofício das Leituras: pode ser rezado em qualquer hora do dia; destaca-se pela leitura prolongada da Escritura e dos Padres da Igreja.

Laudes (Oração da Manhã): consagra o início do dia ao Senhor, é oração de louvor e esperança.

Hora Média (Terça, Sexta e Noa): breve pausa durante o trabalho, lembrando que o Espírito Santo guia nossa vida.

Vésperas (Oração da Tarde): ação de graças pela jornada concluída, iluminada pela luz de Cristo.

Completas (Oração da Noite): entrega confiante da vida nas mãos de Deus antes do repouso.

IV – O Ofício das Leituras

O Ofício das Leituras tem lugar especial entre as Horas. Nele, a Igreja:

Eleva a Deus salmos e hinos;

Medita longamente a Sagrada Escritura, permitindo um contato mais profundo com a Palavra;

Escuta os Santos Padres e mestres da fé, cujas homilias e escritos enriquecem a espiritualidade cristã;

Alimenta a alma com reflexões que unem fé, tradição e vida.

É, por excelência, a oração dos que desejam meditar e estudar espiritualmente, iluminando a mente e inflamando o coração.

V – Orientações para a Oração

Disposição interior: rezar com recolhimento, atenção e fé, sem pressa, permitindo que a Palavra penetre no coração.

Respeito à ordem litúrgica: seguir fielmente o Ordinário e o Próprio do Tempo ou dos Santos, conforme indicado.

Unidade com a Igreja: lembrar que, mesmo sozinho, quem reza a Liturgia das Horas nunca está isolado, mas unido à oração universal da Igreja.

Valor do canto: sempre que possível, cantar os salmos e hinos, pois a Liturgia das Horas é essencialmente hínica.

Participação comunitária: a oração em assembleia manifesta visivelmente a unidade do Corpo de Cristo.

VI – Chamado aos Fiéis

A Igreja exorta todos os seus filhos, especialmente clérigos, religiosos e religiosas, mas também leigos engajados, a assumirem a Liturgia das Horas como parte de sua vida espiritual.

Para os ministros ordenados, é dever sagrado e compromisso pastoral.

Para os religiosos, é expressão de consagração e louvor comunitário.

Para os leigos, é fonte de santificação pessoal e familiar, inserindo-os mais profundamente no mistério da Igreja.

Conclusão

A Liturgia das Horas é o canto incessante da Esposa ao Esposo, a oração de Cristo e da Igreja, o louvor que santifica o tempo e abre o coração humano para a eternidade.

Por meio dela, aprendemos que cada hora é tempo de Deus, cada momento é graça, e cada instante pode se tornar oração.

Rezemos, pois, com fidelidade e fervor, a fim de que, unidos a Cristo, possamos antecipar já nesta terra o louvor eterno do Céu, onde com os anjos e santos cantaremos para sempre:

“Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém.”

Sem mais me despeço-me

Dado e passado em Roma, na Sede do Dicastério para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramento sob o pontificado de Piv Pp. IV, ao décimo sétimo dia do mês de Setembro do ano Santo Jubilar de dois mil e vinte e cinco.

In corde Christi,

 Ítalo Silva 
Tituli di Aquae in Numidia
Prefeito

 José Leandro
Tituli di Scalensis
Pro-Prefeito
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